sexta-feira, 22 de junho de 2012

Giotto di Bondone


Giotto di Bondone nasceu em 1267 em Colle di Vespignano, uma aldeia da região de Mugello, na Itália, a nordeste de Florença. Segundo a lenda, seu pai, Bondone, era dono de uma pequena propriedade rural no vilarejo e criou o menino para pastorear suas ovelhas pelas colinas nas redondezas.
A história da descoberta de Giotto como artista foi narrada inicialmente pelo escultor Lorenzo Ghiberti em seus Comentários, escritos em meados do século XV, e tem sido repetida pelos críticos desde então. Ghiberti conta que o jovem Giotto estava sentado num campo com seus rebanhos, desenhando uma ovelha com carvão numa rocha. Ao passar por ele, o célebre pintor florentino Cimabue ficou espantado com a habilidade e a aptidão inatas do menino para o desenho. Acompanhou-o então ao vilarejo e pediu permissão a seu pai para levá-lo como aluno. O pai, muito pobre, concordou, enviando Giotto para a oficina de Cimabue.



O APRENDIZADO COM CIMABUE
Apesar de seu tom fictício e romântico, a história contém, provavelmente, algo além de uma simples pitada de verdade. Quaisquer que tenham sido as circunstâncias do encontro, é quase certo que Giotto se tornou aprendiz de Cimabue ainda muito jovem e provavelmente se transferiu para a oficina florentina do artista no final da década de 1270. Esse contato precoce com Cimabue teve uma importância decisiva para o jovem Giotto. Cimabue era o mais proeminente artista de seu tempo e o primeiro pintor florentino a absorver em sua arte a influência do Classicismo. Trabalhara em Roma em 1272, observando atentamente a escultura clássica, assim como a pintura mural do cristianismo primitivo, que na época estava sendo recuperada e restaurada pelo pintor Cavallini. Em seu retorno a Florença, muitos anos depois, passou a trabalhar com um naturalismo que interessou profundamente ao jovem aprendiz, formando a base de seu próprio estilo revolucionário.

O aprendizado de Giotto com Cimabue durou até cerca de 1280, quando o mestre foi chamado a Assis para trabalhar na Basílica de São Francisco. Tratava-se de um encargo importante, já que a basílica era a principal igreja da Ordem Franciscana, local da sepultura do próprio São Francisco. Alguns anos mais tarde, também Giotto seria convidado a trabalhar no grandioso projeto decorativo da basílica.

Quando Cimabue deixou Florença, Giotto era ainda apenas um menino e provavelmente ficou na cidade trabalhando com os assistentes do artista nos encargos da oficina. Por volta de 1285, entretanto, fez uma visita a Roma, onde viu, pela primeira vez, as pinturas e esculturas que tanto haviam impressionado seu mestre.
Até esse ponto, nenhum trabalho seguramente atribuído a Giotto chegou até nós, e não se sabe se recebeu encargos próprios em Roma. Durante os anos seguintes, contudo, adquiriu considerável reputação como pintor. Por volta de 1287, transferiu-se para Assis a fim de trabalhar na Basílica de São Francisco. Nessa época, Cimabue já retornara a Florença e é provável que Giotto estivesse trabalhando por conta própria, com seus próprios assistentes.

O CICLO DE ASSIS
As datas e atribuições precisas dos trabalhos de Giotto em Assis têm sido objeto de contínuos debates, embora a maior parte dos estudiosos concorde atualmente que o artista foi largamente responsável pelo ciclo de 28 cenas da vida de São Francisco que adornam a Basílica Superior. O ciclo ocupou Giotto e seus assistentes até o final de 1299. Depois que terminou esse trabalho, Giotto foi chamado a Roma para executar uma encomenda do Papa Bonifácio VIII. No início de 1300, o papa promulgou um grande jubileu na cidade e, para marcar a ocasião, encarregou o artista de criar um afresco comemorativo que mostrasse o pontífice dirigindo-se às multidões do balcão do Palácio Laterano, a então residência papal. Atualmente o afresco se encontra bastante danificado. E possível que tenha sido executado por assistentes, mas o desenho é certamente de autoria de Giotto. Essa encomenda do pontífice nos dá uma clara indicação do prestígio do artista nessa época.


Em 1301, Giotto estava de volta a Florença, que logo se tornou seu lugar de residência. Durante os anos em que viveu em Assis, fizera repetidas viagens a Florença, pintando retábulos e crucifixos para as igrejas locais. Durante uma dessas visitas, Giotto se casou. Sua mulher, Ricevuta di Lapo del Pela, conhecida como Ciuta, daria oito filhos ao artista.
Na época em que voltou de Roma, Giotto estava ansioso para fixar residência com sua família e, em 1301, comprou uma casa em Florença, na paróquia de Santa Maria Novella. Contudo, sua estada ali não duraria muito, pois no ano seguinte foi chamado a Pádua pelos Frades Menores, para pintar um ciclo de afrescos, hoje perdidos, numa igreja dedicada a São Francisco. Foi durante esta viagem a Pádua que Giotto recebeu sua primeira encomenda conhecida de um cliente secular. Decorou a capela particular de Enrico degli Scrovegni.

Scrovegni era um homem de posses muito influente e, em 1302, obteve permissão do Bispo de Pádua para erguer uma capela no lugar de um antigo anfiteatro romano. Apesar dos protestos de uma comunidade local de monges, a construção seguiu adiante e a Capela Arena, também conhecida como Capela Scrovegni, foi consagrada com uma grande cerimônia, três anos depois.

A CAPELA ARENA
Por volta de 1303, Scrovegni pediu a Giotto para decorar a capela com cenas da Vida de Cristo e da Virgem. O interior simples adequou-se de maneira ideal ao estilo monumental de Giotto, e os afrescos que produziu não tinham precedentes em sua força dramática e no vigor de suas cores. Scrovegni, o dono da capela, tinha grande orgulho em exibir seu primoroso interior, abrindo periodicamente o local à visitação pública. Em 1304, o Papa Benedito XI concedeu indulgência a todos aqueles que fizessem peregrinação até a capela; os afrescos de Giotto tornaram-se, então, amplamente conhecidos. Em poucos anos já eram descritos com pródigos louvores pelos críticos da época.


Quando Giotto retornou a Florença, em 1306, sua notoriedade estava firmada. Alguns anos mais tarde, Dante invocaria o nome de Giotto em sua Divina Comédia, descrevendo-o como o maior artista vivo de seu tempo. Ao que se sabe, esta foi a primeira vez que um artista se viu aclamado publicamente em sua própria época, o que nos dá uma clara indicação do admirável êxito de Giotto. Daí em diante, poetas e cronistas aplaudiram constantemente a obra do artista, difundindo a lenda de Giotto como fundador de uma nova arte.
Nos vinte anos seguintes, Giotto residiu a maior parte do tempo em Florença, embora tenha feito rápidas incursões por Roma, Rimini e Pádua, onde trabalhou novamente para Scrovegni. Ao mesmo tempo, realizou numerosos afrescos, retábulos e crucifixos para igrejas, em sua própria cidade.

O êxito de Giotto como artista reflete-se não apenas nos tributos literários que recebeu, mas também em seus empreendimentos financeiros. Na mesma proporção que recebia encomendas como pintor, Giotto realizava diversos negócios, oferecendo empréstimos, alugando casas, financiando tecelagens, comprando e vendendo terras em Colle di Vespignano, sua cidade natal. Os documentos da época também mostram-no como um homem bastante envolvido com questões familiares. Em 1318, Giotto emancipou formalmente seu filho Francesco, que se tornou prior de uma igreja local e administrador legal das propriedades do pai. Ofereceu também um lote de terra para sua filha Bice e, em 1326, o artista consentiu no casamento de sua filha Chiara, concedendo-lhe um dote bastante substancial.

Segundo todas as fontes, Giotto era um homem amável, com uma inteligência arguta e um senso claro de seu valor como artista. O biógrafo Vasari relata que, em certa ocasião, o Papa Benedito XI desejava realizar pinturas para a Basílica de São Pedro e enviou um de seus áulicos para descobrir que espécie de homem era Giotto e como era seu trabalho. O mensageiro pediu a Giotto um desenho que pudesse levar de volta ao papa. Giotto imediatamente apanhou um pedaço de papel e um pincel e, com um rápido movimento de uma única mão, traçou um círculo perfeito. O áulico achou que estava sendo ridicularizado e levou o desenho ao pontífice com grande constrangimento. Mas, quando explicou a forma como o artista desenhara o círculo, sem o auxílio de um compasso, o papa e os mais cultos de seu séquito reconheceram, imediatamente, a superioridade do talento do artista.



UMA FAUSTOSA CLIENTELA SECULAR
Ao mesmo tempo em que recebia numerosas encomendas da Igreja, Giotto continuava requisitado por clientes seculares. Por volta de 1320 recebeu um encargo de Giovanni Peruzzi, chefe de uma poderosa família de banqueiros, para realizar um afresco em sua capela particular na Igreja de Santa Cruz. Logo que concluiu a incumbência, pediram-lhe que decorasse a capela adjunta dos Bardi, uma preeminente família de banqueiros.
Os afrescos para as capelas dos Peruzzi e dos Bardi foram em grande parte pintados em fresco secco, uma técnica em que os pigmentos são aplicados a um estuque seco. Embora menos durável que o afresco em gesso úmido, o fresco secco permite ao artista trabalhar de maneira mais flexível, fazendo uso mais extensivo de seus assistentes e realizando grandes trabalhos em pouco tempo. A escolha dessa técnica por Giotto é um reflexo de seu imenso número de encomendas, pois isso lhe permitia elaborar os desenhos e deixar a execução a cargo de uma grande equipe.

Em 1328 Giotto foi chamado a Nápoles para trabalhar para o rei, Roberto d'Anjou. As pinturas que executou ali foram destruídas pelos regentes subseqüentes da cidade, mas as crônicas contemporâneas relatam que o artista trabalhou intensamente. O rei tinha Giotto em alta conta e, a partir de 1332, ofereceu-lhe uma pensão anual.

Apesar de sua origem camponesa, Giotto adaptou-se prontamente aos modos da corte, desfrutando de um relacionamento afável e familiar com seu influente patrono. Giorgio Vasari conta como o rei freqüentemente ia observar o artista enquanto ele trabalhava. Giotto, que tinha sempre algum gracejo à mão, mantinha o interesse do monarca tanto por sua pintura como por suas observações espirituosas.

NOMEAÇÕES DE PRESTIGIO
Em 1334 Giotto estava de volta a Florença, onde sua carreira sofreu uma guinada inesperada. Em 12 de abril foi nomeado Diretor dos Trabalhos da Catedral. Também foi feito governador dos Trabalhos da Comuna, cujas responsabilidades incluíam a construção dos novos muros da cidade. Parece improvável que Giotto possuísse alguma experiência como arquiteto, embora alguns estudiosos atribuam a ele o projeto da Capela Scrovegni. Mas a Comuna valorizava, evidentemente, seu julgamento artístico, e sua conduta diplomática era, sem dúvida, inestimável num trabalho que envolvia a gerência de grandes equipes de trabalhadores. A Comuna também estava ansiosa por manter Giotto na cidade e esperava retê-lo permanentemente com a tentação de um cargo de prestígio.
Quando da nomeação de Giotto, a Catedral ainda estava em construção. Sob sua direção, ergueu-se o magnífico campanário, e Giotto talvez tenha sido responsável por seu projeto. Desenhou, também, uma série de relevos para adornar a parte inferior da torre, que foram executados pelo escultor Andrea Pisano.


O campanário da Catedral de Florença foi o último trabalho de Giotto. Em 8 de janeiro de 1337, depois de uma breve viagem a Milão, o artista morreu na mesma Florença. Foi enterrado às expensas da Comuna, uma honra sem precedentes para um pintor. Sua reputação se mantinha viva mais de um século depois, quando um decreto público determinou a construção de uma grande sepultura memorial para o artista. O epitáfio proclamava orgulhosamente: "Sou o homem que deu vida à pintura... tudo o que possa ser encontrado na natureza poderá ser visto em minha arte".

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