sábado, 6 de outubro de 2012

Arte como um caminho da Compaixao


“Arte como um caminho para a compaixao” – o próprio titulo parece ser meramente poético… mas de fato, essa é a minha visão e explicarei resumidamente como vejo isso e o quanto a arte e o dharma são uma coisa só.


Arte nos ensina muito sobre o olhar. Como que uma pessoa olha um quadro e vê mil significados e outra só vê um borrão de linhas e cores? O quadro é o mesmo, o que diferencia é a visão, o individualismo aparente.  O quadro é maravilho para quem enxergou arte e é uma piada pra quem viu apenas um borrão. Enfim, o quadro é belo ou feio? Ele não é nada, ou melhor, ele é o que você quiser, ou ainda melhor, ele é um espelho do que você é. Se você enxerga beleza, é porque você deixou que ele refletisse beleza no seu entender. Dentro de você se reflete algo belo, algo que lhe inspira, algo que lhe nutre a beleza e a felicidade de presenciar algo tão belo... e sentir a beleza, seja no que for, é o que tantos filósofos já diziam... esse sentir é o que nos traz mais perto do divino, ou o divino dentro de nós mesmos. Mais perto da nossa beleza e da nossa identificação com o belo, com o bom.


Por isso a partir do momento que aprendo a enxergar beleza nas coisas comuns, como por exemplo uma xícara com fundo de café – pode-se ver o contraste das cores, pode-se ver a historia de uma xícara que foi tomada, que acomodou o liquido em sua forma perfeita e dirigiu para dentro da boca de alguém com sede, ou puro desejo por um sabor. A xícara vai alem da porcelana, vai alem da sua linha, da sua luz... de repente ela se desmancha na paisagem... ela pertence a uma função, ou não, ela pertenceu às mãos de alguém, ou não. Interconexão. Tudo ali, explicito na presença muda da xícara. Todo o dharma - se eu só tivesse meus olhos de artista aberto o tempo todo, eu amaria todas as formas, não julgaria nada como feio ou mal-amado – tudo seria digno de ser amado, de receber um ato de compaixão. Um passo à frente é ver beleza até nas ofensas, isso não nos tira a razão de termos as atitudes mais adequadas, mas nos salva de gerarmos aversão pelo outro ou por uma coisa. Há beleza no movimento ríspido das relações, que através da dureza, elas lutam para se polir, se amadurecer – ao ser repugnante, se vê potencial de luta para ser algo brilhante. O potencial do belo existe em tudo como uma semente que guarda uma arvore gigante. O olho do artista é considerar sempre o potencial do belo, esse olhar é enxergar o que é e o que ha de ser. E por isso emerge dentro do teu ser a vontade e a motivação pura de ter verdadeira compaixão, pois tudo e todos, absolutamente todos, são merecedores de sua compaixão.


O espírito artista não se trata de quem pinta, ou cria coisas, antes disso acontecer, o trabalho é mesmo feito antes – o que o move a criar. Ele pode criar a partir de como as coisas o fascina, mas para o artista que vê a arte como caminho, ele sublima essa visão e vai alem, renovando suas motivações. Por isso que todos temos o potencial de ser artista e por isso esse caminho é também para todos poderem trilhar.


Quando me perguntam se gostava de pintar dês de criança, acho um pouco de graça... que criança nunca gostou? A questão é que eu continuei a pintar, mas a pessoa também não deixou de ver algo belo em outra profissão e mergulhou em seu aprendizado. Quem tem espírito de artista sempre se fascina com algo, porque ele vê a beleza e se contenta imensamente com aquilo – desperta também curiosidade e energia de desenvolvimento.  E quanto mais intensificarmos essa visão, maior é nossa transformação – o potencial existe, em cada um de nós.


Tiffani Hollack Gyatso 08/2011

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