terça-feira, 26 de junho de 2012

Hieronymus Bosch


Conhecido e admirado em todo o mundo - Jheronimus (ou Jeroen) Anthonissen van Aken — o Hieronymus Bosch — nasceu por volta de 1450 na província holandesa do Brabante Setentrional, muito provavelmente na pequena cidade de 's-Hertogenbosch, da qual é quase certo que derivou seu sobrenome artístico.
Acredita-se que a família era originária de Aachen, na Alemanha, conforme sugere o sobrenome, e estabelecera-se na Holanda ainda no início do século XV. O pai de Bosch, Anthonius van Aken, era pintor, assim como o avô, Jan, dois ou quatro tios, o irmão Goossen — que herdou a oficina paterna — e uma irmã (Heberta ou Katherine).


UMA VIDA TRANQUILA

Quase nada ou, muito pouco, se sabe sobre a vida de Bosch, mas com uma vida tranqüila e confortável, em sua infância morou numa casa abastada, onde religião e arte eram assuntos de fundamental importância. Morou a partir de 1462, num casarão da Grote Market, a praça mais importante de 's-Hertogenbosch, onde estava instalada a feira de tecidos, principal riqueza da cidade.
Os Van Aken mantinham estreitas relações com a Catedral de São João, edifício gótico que constituía um dos maiores orgulhos da população local. Recebendo encomendas para decorar peças de mobiliário e colorir estátuas, e é possível que Jan tenha pintado um afresco sobre a Crucifixão, datado de 1444.


O caminho da dor

Poucas biografias existem sobre Bosch, e nenhuma fornece indicações a respeito de seu aprendizado.

Há hipóteses de alguns estudiosos — não comprovadas — de que tenha estudado em algum centro próximo, como Utrecht, onde teria entrado em contato com as iluminuras que influenciaram sua obra em determinado período.

É mais provável, no entanto, que tenha se iniciado na arte sob a orientação do pai ou de um dos tios (o avô havia morrido na época de seu nascimento).

Em torno de 1480 ou 1481, possivelmente, Bosch recebeu o grau de mestre na corporação dos pintores de 's-Hertogenbosch. Nesta mesma época, é citado pela primeira vez como marido de Aleyt Goyaerts van den Meervenne, com quem se casara em cerca de 1478, esta era alguns anos mais velha e proveniente de uma rica família local. Aleyt sem dúvida favoreceu-o com polpudo dote e ajudou-o a estabelecer importantes contatos sociais. Seu casamento trouxe a Bosch prosperidade, tornando-se proprietário de terrenos na vila vizinha de Oorschot e vários outros imóveis, que lhe permitiram viver confortavelmente até seus últimos dias — embora também lhe causassem trabalho e preocupação, pois, sabe-se que por várias vezes precisou cuidar de questões referentes a esses bens e parece que em 1481 envolveu-se num processo legal com o cunhado. Embora esses problemas, não devem ter afetado sua vida conjugal, que, acredita-se, transcorreu feliz, num lar tranqüilo e sem filhos.


LIVRE ESPÍRITO E VIDA COMUM

A natureza das obras de Bosch eram bizarras e fantásticas, o que levou a algumas especulações extravagantes sobre sua vida.

Propostas por Wilhelm Frãnger, uma das teses mais conhecidas, sugere que o pintor pertencia ao grupo Homines Intelligentiae, organização satélite da seita dos Irmãos e Irmãs do Livre Espírito, também conhecidos como adamitas. Seita herética que surgiu no século XIII e, durante o século XV, fora difundida pela Alemanha, Bélgica e Holanda. Seus adeptos acreditavam que, toda a humanidade seria salva desde que recuperasse a inocência de Adão e Eva no Paraíso perdido, e o meio mais eficiente de atingir este objetivo seria a prática do ato sexual em promiscuidade ritualística. De acordo com essa tese, o célebre tríptico 0 jardim das Delícias focalizaria a orgia ritual de alguns adamitas de s-Hertogenbosch. Nenhuma prova existe de que Bosch, ou qualquer outra pessoa da cidade pertencessem à seita do Livre Espírito, nem que esta tenha sobrevivido até a época da elaboração do tríptico.


O Jardim das Delícias - painel lateral

A hipótese muito mais viável é a de que Bosch tenha participado da Irmandade da Vida Comum, uma das muitas confrarias religiosas que proliferavam em 's-Hertogenbosch. Criada no século XIV por Gerhard Grote, discípulo do grande místico e eremita flamengo Jan van Ruysbroeck, e levada para a cidade de Bosch na primeira metade do século XV, esta Irmandade pregava um novo espírito de vida religiosa, combatia ao mesmo tempo as seitas heréticas e a corrupção do clero. A firme devoção de seus adeptos levava-os a renunciar aos apelos do mundo e a partilhar tudo que possuíam. As idéias da Vida Comum provavelmente exerceram forte influência sobre a religiosidade e a arte de Bosch, que as teria apreendido tanto nas reuniões a que provavelmente comparecia como nas obras de místicos flamengos contemporâneos que também as adotavam.

A IRMANDADE DE NOSSA SENHORA

Foram possivelmente as mesmas idéias que ocasionaram profunda mudança na orientação da Irmandade de Nossa Senhora. Fundada em 1318, a Irmandade durante quase um século dedicou-se basicamente a tarefas ligadas ao culto, sobretudo ao culto mariano; seus membros, homens e mulheres, leigos e religiosos, tratavam, entre outros encargos, de providenciar novas composições musicais para suas missas diárias e encomendar obras de arte para adornar sua própria capela na Catedral de São João, onde mantinham uma imagem da Virgem tida como miraculosa. Talvez sob influência da Vida Comum, a partir do século XV a Irmandade passou a dedicar-se também a obras de caridade, ampliando ainda mais sua importância na vida da cidade.


O Jardim das Delícias - painel central

Bosch ingressou na Irmandade de Nossa Senhora em 1486 ou 1487, onde sua mulher era membro.Seu nome, porém, começou a constar dos registros da confraria alguns anos antes. Estes informam, por exemplo, que em 1480/81 Bosch comprou da Irmandade dois retábulos que seu pai deixara inacabados; não há maiores explicações a respeito, mas é possível ter adquirido as obras com a intenção de concluí-las. Mais tarde, entre 1488 e 1492, Bosch pintou as portas de um retábulo de madeira sobre Nossa Senhora, cujo painel central fora esculpido em 1476/77 por Adriaen van Wesel, de Utrecht. Elaborou no ano de 1493/94, um vitral para a nova capela da Irmandade. Entre 1499 e 1503, os registros silenciam a seu respeito, supondo-se que, nesse período, Bosch tenha viajado para a Itália.

EXÉQUIAS PELO INSIGNE PINTOR

Bosch, já no início do século XVI era um pintor conhecido dentro e fora de seu país, e no ano de 1504, recebeu sua mais importante encomenda até hoje documentada. O Duque de Borgonha, conhecido por - Filipe o Belo, encarregou-o de pintar um grande retábulo sobre o Juízo Final, que nunca foi encontrado. Acreditam alguns, que haja um fragmento dessa obra em Munique e que o tríptico com o mesmo título conservado em Viena constitua uma versão menor do retábulo.


O Jardim das Delícias - painel lateral

Trabalhou assiduamente para a Irmandade de Nossa Senhora, para a qual, entre outras obras, projetou um crucifixo em 1511/12 e um candelabro em 1512/13. Isto é tudo que se sabe sobre ele nesse período. No dia 9 de agosto de 1516, vem a notícia de que foram celebradas na capela da Irmandade solenes exéquias pelo "defunto irmão Jheronimus van Aken, aliás Bosch, insigne pintor".

Nenhum comentário: